Eliane Manzato
O Senhor lhe disse [a Elias]: Saia e fique no monte, na presença do SENHOR, pois o SENHOR vai passar”. Então veio um vento fortíssimo que separou os montes e esmigalhou as rochas diante do SENHOR, mas o SENHOR não estava no vento. Depois do vento houve um terremoto, mas o SENHOR não estava no terremoto. Depois do terremoto houve um fogo, mas o SENHOR não estava nele. E depois do fogo houve um murmúrio de brisa suave. Quando Elias ouviu, puxou a capa para cobrir o rosto, saiu e ficou à entrada da caverna.”
(I Rs 19:11-13)
Deus se encontra nos lugares mais improváveis. Muitas vezes tenho a impressão de que ele até se esconde de nós. Deus se esconde sim de nós, porém Ele é como um pai quando brinca de esconde-esconde com o filho. Ele se esconde, mas nos dá pistas de onde está e de como poderemos encontrá-lo. E quer ser achado o mais rápido possível, porque quer falar conosco, nos ensinar.
E nós, como filhos, às vezes nos cansamos desta brincadeira. Nos apegamos a uma tradição que nos ensina rituais que aparentemente nos levam para mais perto de Deus, mas que na verdade, estão apenas mascarando o nosso relacionamento de um filho com um pai e alimentando o nosso comodismo. Cantamos na igreja, no carro, no ônibus, em casa, no trabalho, nos ensaios. Cantamos, cantamos, cantamos. E nos escondemos de Deus nas notas musicais.
Nos escondemos do Pai também em tantas outras coisas... nas programações, nos irmãos, na igreja, nos movimentos de adoração do momento, nas frases feitas, nas perguntas e respostas pré-estabelecidas, nos chaveiros, roupas, bonés, nas “ruas gospel”. Num protótipo de crente que, embora revolucionário, tem nos afastado cada vez mais do olhar de Cristo. Daquele olhar de amor que transformou o apóstolo Pedro quando ele negou Seu amado Mestre (Lucas 22:61). O olhar que gera arrependimento. Arrependimento que gera transformação.
Não sei se existe uma chave para atrair este olhar. Aliás, acho que este olhar está constantemente sobre nós. O problema é que estamos olhando para tantas outras coisas que nem percebemos estes olhos amorosos. E por isso não nos arrependemos. E não somos transformados.
E como perceber este olhar então? Conectando-se ao SENHOR através da verdadeira adoração. Jesus disse que os verdadeiros adoradores adorariam o Pai em espírito e em verdade. Esta declaração virou clichê no meio cristão, mas infelizmente é pouco vivenciada por nós. Esta adoração só acontece quando eu sei realmente quem é Deus e quando o meu espírito se conecta ao Espírito Santo de Deus. É algo tão sublime, que para acontecer é preciso esconder-nos. E esconder-nos única e exclusivamente na presença de Deus, e rejeitar tudo aquilo que temos usado para nos escondermos Dele: os rituais, palavras, sons, enfim, qualquer auxílio humano. Render-nos totalmente à Sua santa presença, prostrar-nos aos seus pés, reverenciá-lo. Esconder-nos na fumaça do Santo dos Santos, ainda que haja milhares de pessoas ao nosso redor, um mundo nos oprimindo, tradições ou o nosso eu querendo aprisionar-nos, para sermos vistos apenas por Ele.
Com a obra redentora de Jesus, todos nós temos livre acesso a este Santo dos Santos. Porém é triste ver que são poucos os que desejam entrar ali, pois é um lugar de reverência, de renuncia, de entrega, de santidade. Que cada um de nós possa ser um verdadeiro adorador, que deseja esconder-se nas asas do Pai, que deseja realmente esvaziar-se de tudo, de todos os pré-conceitos, da religião, de tudo o que é humano, e ter um encontro genuíno com Deus. Encontro este que é a única maneira de gerar no coração humano temor, arrependimento e transformação.
Eu queria transformar em palavras
O que sinto quando eu percebo o Teu olhar
E me arrependo, e me rendo
E sou transformado
Em silêncio
Sou transformado, por Ti,
Jesus